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O diretor mato-grossense Madiano Marcheti em entrevista com a AFP pelo seu filme "Madalena", no Festival de San Sebastián. (DIEGO URDANETA/AFP)
Filme brasileiro faz denúncia à transfobia no Festival de San Sebastián
"Infelizmente, a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos e, para essas pessoas, acaba sendo uma hipótese natural: se desaparecem é porque" podem ter sido assassinadas, diz o diretor Madiano Marcheti
Por Julia StorchPublicado em: 21/09/2021 às 12h49Alterado em: 21/09/2021 às 14h54
Madalena é um filme do diretor brasileiro Madiano Marcheti contra a transfobia que, em entrevista com a AFP, denuncia que a situação da comunidade LGBTQIA+ no país sob o governo de Jair Bolsonaro "está muito pior" do que antes.
A obra-prima de Marcheti entrou nesta semana na disputa para conseguir o prêmio de melhor filme latino-americano no Festival de Cinema de San Sebastián, que entrega seus prêmios no sábado (25).
O filme narra a história do desaparecimento em uma região conservadora do país da transexual Madalena, assim como as reações das pessoas que a conhecem, que vão desde a indiferença até a presunção de que ela está morta, por esta ser uma "hipótese natural" para as pessoas transexuais, explica Marcheti.
"Infelizmente, a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos e, para essas pessoas, acaba sendo uma hipótese natural: se desaparecem é porque" podem ter sido assassinadas, diz o diretor em entrevista com a AFP.
Além disso, Madalena também é uma história que ele precisava contar.
"Queria falar sobre meu lugar de origem no Brasil, o estado do Mato Grosso (...), região muito conhecida e importante no país pelo agronegócio. Queria falar sobre os impactos do agronegócio na natureza e na vida das pessoas", explica.
"Por outro lado, também quis falar sobre as minhas experiências. Cresci nessa região muito conservadora, cresci sendo gay e foi difícil, me sentia parte e, ao mesmo tempo, não me sentia parte desse lugar, então quis falar dessa sensação", destaca.
Ele também buscou chamar a atenção para "a transfobia porque, na população LGBTQIA+, as pessoas trans são as que mais sofrem violência", acrescenta.
Ataques normalizados
O diretor afirma que, embora o filme "tenha nascido cinco anos atrás", hoje em dia "tem mais sentido", já que, se naquele momento as coisas já não eram boas para a comunidade LGBTQIA+, "estão piores" agora sob a presidência de Jair Bolsonaro.
"O nível de violência aumentou, não só a violência concretamente física, mas a violência verbal. Agora no Brasil estão normalizados os ataques verbais e as ofensas, o discurso de ódio", lamenta.
"Um presidente falar abertamente as coisas que fala é um incentivo para que qualquer um que antes tinha um preconceito guardado, agora fale ou escreva na internet", acrescenta.
As ofensas de Bolsonaro lhe renderam várias acusações de homofobia e misoginia.
O presidente também trouxe uma falta de apoio do governo ao cinema, afirma Marcheti.
"As instituições de apoio e incentivo ao cinema existem, mas estão paralisadas, nada acontece. O cinema teoricamente existe, mas sem força alguma", lamenta.
Sob Bolsonaro, os artistas no Brasil denunciam serem censurados, com shows cancelados e financiamentos suspensos, um fenômeno que afeta principalmente as produções LGBTQIA+.
No Festival de San Sebastián, Madalena compete na seção Horizontes de cinema latino-americano com outras nove produções ou co-produções da Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, México, Panamá e Uruguai.
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Joanna Harper é conselheira do Comitê Olímpico Internacional (COI) e corredora de longa distância
Olimpíada de Tóquio 2021: a proposta radical de cientista e atleta trans para incluir transgêneros no esporte ‘de forma justa’
Megha Mohan Correspondente de identidade e gênero da BBC2 agosto 2021
Joanna Harper, pesquisadora que assessora o Comitê Olímpico Internacional (COI) sobre atletas transgêneros, ela mesma uma corredora trans de longa distância, diz que é possível tornar o esporte justo para todos.
Sua jornada começou quando Joanna, então com 6 anos, vivendo em uma pequena cidade no Canadá, perguntou a um amigo se ele gostaria de tentar viver como uma menina. A reação de choque e escárni, bastou para que ela nunca mais fizesse aquela pergunta a ninguém.
Ela soube desde cedo que era diferente. Uma menina no corpo de um menino era assim que Joana se via, uma "canhota em um mundo construído para pessoas destras", em suas próprias palavras.
Brincava com as coisas da irmã e gostava de roupas femininas, mas naquela época diz que não conseguia entender sua própria identidade. Afinal, quem poderia dar conselhos a Joanna sobre identidade de gênero naquele tempo? Quem, especialmente, na minúscula cidade de Parry Sound, em Ontário, onde morava, cerca de 150 km ao norte de Ontário, Canadá?
Então, Harper guardou esses pensamentos para si mesma e se distraiu com esportes. A corrida passou a fazer parte da sua vida. Ela corria todos os dias, duas vezes por dia.
Seu pai era o chefe do departamento de Educação Física da escola local e, quando ela atingiu a adolescência, Joanna era melhor do que ele nas corridas de longa distância. Ela também se destacou academicamente, principalmente em Ciências. Na época em que se formou no ensino médio, ela era a melhor corredora do distrito.
Na universidade, onde estudou Ciências, Harper se juntou à equipe de cross country (modalidade de corrida em terreno aberto ou acidentado). Quando estava na casa dos 20 anos, fazia parte do seleto grupo de 20 melhores corredores de longa distância no Canadá. Enquanto o esporte deu a Joanna uma chance de escapar de pensar em sua identidade, ela sabia, no fundo, que era uma mulher trans.
"Sempre soube que era uma menina, embora tenha vivido todos esses anos como um menino", diz.
Após a formatura, Joanna começou a trabalhar como cientista pesquisadora em uma grande instalação médica nos Estados Unidos.
A transição
Foi só em 2004, quando já tinha chegado na casa dos 40 anos e após a morte de seu pai e irmã, que Harper começou a terapia hormonal para iniciar sua transição de gênero.
Em algumas semanas, ela se sentiu visivelmente mais lenta e, após nove meses de terapia, estava 12% mais devagar do que antes. De acordo com um estudo da RunRepeat, os homens correm maratonas cerca de 11% mais rápido do que as mulheres. "Ingenuamente pensei que isso significaria que eu seria aceita na corrida de longa distância feminina", diz Harper.
Não foi o caso. Muito poucos na comunidade de atletismo disseram alguma coisa na cara dela, mas os sussurros chegaram aos seus ouvidos. Algumas atletas achavam que ela ainda tinha uma vantagem injusta por causa de sua fisiologia masculina anterior.
Mais ou menos na mesma época, as discussões sobre pessoas trans no esporte de elite estavam ganhando força. Em 2005, tanto o COI quanto o órgão regulador do atletismo nos Estados Unidos anunciaram que permitiriam que atletas trans competissem conforme seu gênero identificado após a cirurgia de redesignação sexual e dois anos de terapia hormonal.
"Intelectualmente, isso me interessou", diz ela, "como cientista, queria analisar o desempenho de atletas transgêneros."
Caster Semenya (centro) e Margaret Wambui (esquerda) dizem que foram penalizadas por níveis naturalmente elevados de testosterona
Na época, Harper ainda não era especialista em Ciências do Esporte, mas usou sua formação acadêmica em Física Médica para pesquisar o assunto. Ela começou a procurar atletas trans que fizeram a transição do sexo masculino para feminino e, finalmente, conseguiu reunir dados de desempenho de oito corredores de longa distância, antes e depois da transição.
Em 2015, Harper publicou o primeiro estudo sobre atletas transgêneros revisado por pares do mundo e constatou que mulheres trans que faziam terapia hormonal para reduzir os níveis de testosterona não exibiam vantagem sobre atletas nascidas mulheres em corridas de longa distância.
Alguns criticaram a metodologia do estudo, dizendo que oito pessoas eram uma amostra muito pequena para chegar a qualquer conclusão significativa, mas outros, como o geneticista Eric Vilain, o descreveram como "inovador".
Harper expandiu seu estudo e escreveu um livro autobiográfico Sporting Gender. Em 2019, ela começou a estudar para um doutorado na Escola de Esportes, Exercício e Ciências da Saúde da Universidade de Loughborough, no Reino Unido, especializando-se em atletas trans.
Halterofilista Laurel Hubbard, a primeira atleta transgênero competindo em Tóquio em 2020
Seu estudo mais recente, publicado na revista científica British Journal of Sports Medicine, descobriu que os níveis de hemoglobina (a proteína que transporta oxigênio no sangue pelo corpo) em mulheres trans são semelhantes aos das mulheres nascidas com o sexo feminino biológico após aproximadamente quatro meses de terapia hormonal.
No entanto, sua pesquisa também concluiu que a massa corporal magra e a massa muscular de mulheres trans ainda permanecem acima dos níveis daquelas nascidas biologicamente mulheres após pelo menos 36 meses de terapia hormonal.
Esportes femininos
"Sou a favor da proteção do esporte feminino", diz Harper, "se você olhar para trás, há cem anos, a ascensão do esporte feminino é um dos componentes mais importantes na marcha das mulheres em direção à igualdade com os homens."
Em 2018, a ciclista trans Rachel McKinnon disse que recebeu mais de 100 mil mensagens de ódio no Twitter depois de vencer a competição UCI Masters Track World Championship.
Quando Laurel Hubbard, da Nova Zelândia, se tornou a primeira atleta trans a disputar uma Olimpíada, nos Jogos Olímpicos de Tóquio deste ano, o debate em torno da participação de homens e mulheres trans no esporte ganhou ainda mais força.
"Qualquer pessoa que tenha treinado levantamento de peso em alto nível não pode negar o óbvio: esta situação em particular é injusta para o esporte e para os atletas", disse a levantadora de peso belga Anna Vanbellinghen de Laurel Hubbard em maio. "Oportunidades de mudança de vida são perdidas para alguns atletas — medalhas e qualificação olímpica — e nós estamos impotentes."
Harper, no entanto, diz acreditar que Hubbard não teve uma vantagem esmagadora, porque o levantamento de peso é subdividido em categorias de peso. Isso significa que as atletas são divididas de acordo com sua massa corporal e competem em subdivisões determinadas por ela. Hubbard foi eliminada da competição na categoria acima de 87kg após falhar nas três tentativas que fez na prova.
"Estamos no início desses estudos. Na verdade, levaremos cerca de 20 anos para ter dados precisos sobre mulheres trans em esportes de elite."
Em 2019, Harper aconselhou o Comitê Olímpico Internacional sobre como a participação de atletas trans poderia funcionar no futuro. As descobertas serão publicadas após as Olimpíadas de Tóquio neste ano.
"É preciso haver um requisito de elegibilidade adequado para cada esporte. O nível mínimo de testosterona para homens ainda é quatro vezes superior ao nível feminino", diz Harper. "A elegibilidade deve incluir um biomarcador ou biomarcadores para atletas separados."
Um biomarcador pode ser os níveis de testosterona, sugere ela. "Em vez de divirmos atletas em categorias binárias masculinas e femininas, poderia haver uma divisão do nível de testosterona, altos níveis do hormônio e baixos níveis do hormônio."
Em teoria, isso incorporaria atletas intersexo, como o corredor de meia distância sul-africano Caster Semenya, que têm níveis de testosterona naturalmente elevados.
Em 2018, Semenya foi proibida de competir nas Olimpíadas depois que a Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês) determinou que "para garantir uma competição justa, mulheres com níveis elevados de testosterona natural devem tomar medicamentos para reduzi-los para competir em corridas de meia distância".
Neste ano, as estrelas do atletismo da Namíbia, Christine Mboma e Beatrice Masilingi, foram proibidas de competir nos 400m femininos dos Jogos de Tóquio por causa de seus níveis naturalmente altos de testosterona.
No entanto, as regras atuais são limitadas e se aplicam apenas a atletas que competem em distâncias médias: as corridas de 400m, 800m e 1500m. Isso significa que a corredora indiana de 100 metros Dutee Chand, que também tem altos níveis de testosterona como Semenya, pode competir em Tóquio.
"Mas estou ciente de que a categoria 'mulher' é muito importante para muitas mulheres", acrescenta Harper, "O ideal seria se pudéssemos encontrar uma forma de integrar atletas trans no esporte feminino de uma forma que seja justa para todo o mundo."
Fonte: BBC News Brasil
Link: https://www.bbc.com/portuguese/geral-58059046
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Grindr Web: app lança “versão escritório” pra você receber mensagens no computador
Por Pedro HMC -7 de outubro de 2020
Achou que era só com Whatsapp que dava pra sentar na mesa de trabalho e se manter atualizado sobre as mensagens que chegam sem ter que pegar o celular? Pois dá pra fazer isso no Grindr também graças ao novo Grindr Web.
Ao invés de ter que usar seu telefone e consumir a valiosa bateria, você pode entrar no site de bate-papo do aplicativo usando seu computador. E pra isso, tudo que você precisa fazer é logar em http://web.grindr.com/mail.
A “versão escritório”, que é basicamente um bate-papo, remove a princípio todas as fotos do perfil do usuário, sendo relativamente seguro abrir até no ambiente de trabalho sem que seu chefe perceba que você está no por lá (a não ser que ele esteja também!).
Grindr Web: nova versão torna possível acesso pelo computador.
Como logar pelo computador?Você precisará primeiro abrir o aplicativo em seu telefone e então abrir o aplicativo em seu computador desktop neste site. No seu telefone, vá nas configurações (abrindo seu perfil e indo nas opções de configuração). Você verá uma opção dizendo, “Faça login no Grindr web”.
Você então terá que escanear o código QR, com seu telefone, mostrado na tela de sua área de trabalho e pronto, o Grindr irá conectar seu telefone e seu computador e exibir as conversas na tela maior.
Depois de vinculado, você poderá ver todas as suas mensagens, respondê-las, verificar perfis como faria normalmente. Será necessário acessar os detalhes de sua localização para usar a função GPS.
Fonte: Põe na Roda
Link: https://poenaroda.com.br/pop/tecnologia/grindr-web-app-lanca-versao-web/
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Fechando o primeiro ciclo de lives de seu componente comunitário, na próxima terça-feira, 15 de junho de 2021, às 19 horas, o ImPrEP abordará “Estratégias de educação de pares para populações periféricas”. O encontro virtual ocorrerá via página do estudo no Facebook (@imprepbrasil), tendo como palestrantes principais os educadores e educadoras de pares (EPs) do ImPrEP, em mais uma realização em parceria com a Aliança Nacional LGBTI+.
O encontro terá a mediação dos coordenadores comunitários para as populações HSH e trans do ImPrEP, Júlio Moreira e Alessandra Ramos, e debaterá temas como as estratégias e abordagens utilizadas pelos EPs que lidam com populações de HSH, travestis e pessoas trans moradoras de periferias; como cooperar com organismos e grupos locais para expandir conhecimento acerca da prevenção combinada; de que forma lidar com sentimentos de baixa autoestima ou desesperança quando a tecnologia da PrEP e da prevenção combinada é apresentada a esses públicos; quais as estratégias para dar continuidade ao contato com as populações mais vulneráveis; oferta de outros serviços na perspectiva da saúde integral, como apoio jurídico, encaminhamento para instituições, assistência social etc.
Para assistir às lives já realizadas (“A estratégia da educação de pares”, “Ativismo na luta contra a Aids”, “PrEP e pessoas trans”, “PrEP e HSH”, “Redução de danos e chemsex – sexo químico”, “Autotestagem de HIV como estratégia de prevenção combinada” e “Criação de ambiente favoráveis nos serviços de acolhimento da população LGBTI”), basta acessar o Canal ImPrEP em www.imprep.org ou acessar a conta do projeto no YouTube (projeto ImPrEP INI/Fiocruz).
Texto de Comunicação ImPrEP
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Nepal inclui terceiro gênero ao censo (Foto: Reprodução)
Pela primeira vez, Nepal inclui terceiro gênero no censo
"Quando houver dados após o censo, poderemos usá-los como prova para pressionarmos a favor de nossos direitos" diz Pinky
PUBLICADO EM 30/09/2021 11:48
POR BIANCA ALEIXO
No último sábado (26), o Nepal iniciou o censo do país, desta vez, com uma novidade que mostra um grande exemplo de inclusão e diversidade. Além das opções homem e mulher, os cidadãos entrevistados também poderão dizer se pertencem a um outro gênero ao responderem o questionário.
É a primeira vez que o país decide alterar as informações de seu censo. Com a nova inclusão, os habitantes do Himalaia que fazem parte da comunidade LGBTQIA+ esperam que isso ajude a conseguir ampliar os direitos voltados a essa população.
O Nepal é um dos países da Ásia que possui as leis mais progressistas em relação aos direitos de homossexuais e transexuais. No ano de 2007, todo e qualquer tipo de discriminação envolvendo gênero e orientação sexual foi proibida, e em 2013, um terceiro gênero foi introduzido nos documentos de cidadania. Em 2015, o Nepal passou a emitir passaportes que possuem a opção “outros” referindo-se a como as pessoa se identificam.
Apesar dessas leis e ações de inclusão, ativistas nepaleses dos direitos homossexuais e transexuais informam que entre os 30 milhões de habitantes do país, é estimado que 900 mil pessoas façam parte da população LGBT e que ainda sofrem discriminação, principalmente dentro do trabalho. O presidente do grupo LGBTQIA+ Blue Diamond Society, Pinky Gurung, ressalta que, com os novos dados, o resultado poderá ser usado para conseguir mais direitos.
“Quando houver dados após o censo, poderemos usá-los como prova para pressionarmos a favor de nossos direitos. Poderemos levantar demandas proporcionais à dimensão (da nossa comunidade) na população” diz Pinky. Os ativistas também afirmam que a falta de dados torna difícil o acesso aos benefícios aos quais têm direito, entretanto, dentre as 70 perguntas que fazem parte do censo do país, apenas uma é relacionada a questões de gênero, o que ainda torna os resultados limitantes.
Foto: Prakash Mathema / AFP
Fonte: Observatório G
Link: encurtador.com.br/cgrwF
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